História de Ana Na vida da escritora Ana Maria Machado, os números são sempre generosos. São 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Tudo impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza, em pleno dia 24 de dezembro. Vivendo atualmente no Rio de Janeiro, Ana começou a carreira como pintora. Estudou no Museu de Arte Moderna e fez exposições individuais e coletivas, enquanto fazia faculdade de Letras na Universidade Federal (depois de desistir do curso de Geografia). O objetivo era ser pintora mesmo, mas depois de doze anos às voltas com tintas e telas, resolveu que era hora de parar. Optou por privilegiar as palavras, apesar de continuar pintando até hoje. Afastada profissionalmente da pintura, Ana passou a trabalhar como professora em colégios e faculdades, escreveu artigos para a revista Realidade e traduziu textos. Já tinha começado a ditadura, e ela resistia participando de reuniões e manifestações. No final do ano de 1969, depois de ser presa e ter diversos amigos também detidos, Ana deixou o Brasil e partiu para o exílio. A situação política se mostrou insustentável. Na bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e na BBC de Londres, além de se tornar professora em Sorbonne. Nesse período, ela consegue participar de um seleto grupo de estudantes cujo mestre era Roland Barthes, e termina sua tese de doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação. A tese resultou no livro "Recado do Nome", que trata da obra de Guimarães Rosa. Mesmo ocupada, Ana não parou de escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril. A volta ao Brasil veio no final de 1972, quando começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Rádio JB - ela foi chefe do setor de Radiojornalismo dessa rádio durante sete anos. Escondida por um pseudônimo, Ana ganhou o prêmio João de Barro por ter escrito o livro "História Meio ao Contrário", em 1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios em seguida. Dois anos depois, ela abriu a Livraria Malasartes com a idéia de ser um espaço para as crianças poderem ler e encontrar bons livros. O jornalismo foi abandonado no ano de 1980, para que a partir de então Ana pudesse se dedicar ao que mais gosta: escrever seus livros, tantos os voltados para adultos como os infantis. E assim foi feito, e com tamanho sucesso que em 1993 ela se tornou hors-concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Finalmente, a coroação. Em 2000, Ana ganhou o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Em 2003, após quatro meses de uma campanha trabalhosa, Ana Maria teve a imensa honra de ser eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, substituindo o Dr. Evandro Lins e Silva. Pela primeira vez, um autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhido para a Academia. A posse aconteceu no dia 29 de agosto de 2003, quando Ana foi recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e afetuosa homenagem ao seu antecessor. Aprendi a ler sozinha, com menos de cinco anos. Depois de deixar minha professora e minha mãe assustadas (acharam que poderia fazer mal!), comecei a mergulhar em leituras como o Almanaque do Tico-Tico e os livros de Monteiro Lobato. Foi nesse período que encontrei o livro que marcaria a minha vida para sempre: Reinações de Narizinho.
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| Era uma boa aluna e vivia ganhando prêmios – em geral livros, da família. Uma das minhas redações foi tão elogiada e premiada que a mostrei em casa. Meu tio Nelson, que estava lá, levou o texto para o meu tio Guilherme, folclorista – e essa acabou sendo a minha estréia literária. Devidamente assinado e aumentado, porencomenda da revista Folclore, saiu publicado meu Arrastão, sobre as redes de pesca artesanal em Manguinhos. O meu orgulho supremo foi que a revista não falava que o texto tinha sido feito por uma menina de doze anos. |
A minha adolescência foi repleta de livros, que me proporcionaram grandes prazeres e descobertas. Ficava abismada com o jeito de escrever de grandes autores e cronistas, como Rubem Braga. Na escola, em casa e com meus amigos, estava sempre rodeada de gente que também gostava de curtir a vida tendo bons livros ao seu lado.
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| Exemplar da Recreio. |
| Recebi certo dia uma ligação da Editora Abril, me chamando para escrever em uma nova revista voltada para crianças, e que se chamaria Recreio. Não acreditei no convite, afinal era professora universitária, nunca tinha feito nada parecido. Mesmo assim, insistiram em mim e acabei topando. A revista fez um sucesso imenso, e acabou abrindo caminhos para a nova literatura infantil brasileira. |
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ma conquista histórica |
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| Eu era muito amiga do doutor Evandro Lins e Silva. Minha irmã foi casada com um filho dele, então a gente conviveu muito. Ele várias vezes me falou que eu deveria me candidatar, que ele gostaria muito de me ver na Academia. E quando ele morreu eu fiquei muito triste com o acontecido, mas pensei que a hora era aquela. |
| Com o Dr. Evandro Lins e Silva durante cerimônia de premiação do Prêmio Machado de Assis na ABL em 2001 | |
| Em recepção ocorrida na Editora Nova Fronteira, com os acadêmicos Evanildo Bechara, Alberto da Costa e Silva, Murilo Melo Filho no dia da eleição para a ABL |
| Todo mundo que escreve tem uma vontade de participar da Academia, é algo natural. É o mesmo que um jogador de futebol querer entrar para a seleção, um desembocadouro natural. A campanha foi muito trabalhosa, mas acima de tudo, proveitosa. Foi uma oportunidade de chegar perto de pessoas muito interessantes que de outra forma eu não teria como conhecer. |
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| Depois de quatro meses onde procurei encontrar pessoalmente cada um dos acadêmicos, para me apresentar e à minha obra, tive a imensa honra de ser eleita para ocupar a cadeira número 1, que tem como patrono Adelino Fontoura, e cujo fundador foi Luís Murat.
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| Ana entre os imortais presentes à sua posse | |
| Já diplomada, assumindo a cadeira nº 1. |
| Essa escolha é muito significativa, pois até hoje nenhum autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhida para a Academia. Nem mesmo Monteiro Lobato conseguiu quando se candidatou. |
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| Como fiz questão de lembrar nas primeiras entrevistas que dei após a eleição, sou muito grata a duas outras autoras que abriram os caminhos para essa consagração. Uma delas foi Rachel de Queiroz, por ter sido a primeira mulher a ser escolhida para a Academia e ter aberto as portas para todas as que vieram depois.
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| Se preparando para assinar o livro de posse, encaminhada por Cândido Mendes | |
| Ao lado do presidente da Academia, Alberto da Costa e Silva |
| A outra autora que foi fundamental em minha trajetória de escritora e me incentivou muito a me candidatar foi minha querida amiga Ruth Rocha. A repercussão da minha escolha foi outra coisa maravilhosa que aconteceu. Compartilhe aqui um pouco do carinho recebido através do site. |
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| Com Claudia e Paulo Henrique Amorim |
| Fui recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha, que lembrou, em seu discurso, das outras cinco mulheres que alcançaram essa mesma honra, recordando que, já na fundação da Academia, "Lúcio de Mendonça, a quem todos devemos a idéia de se fundar esta Academia, (...), incluiu o nome de Julia Lopes de Almeida. Foi vencido duas vezes, mas pela imprensa insistiu na mesma tecla, em favor do ingresso de escritoras na Casa de Machado de Assis. ". |
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